sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O Mac também fala pecezês

Um dos mitos mais propagados no mundo PC é o de que o Mac seria uma máquina “menos compatível”. Uma bobagem, já que há mais de 20 anos é possível ter um PC IBM-compatível dentro do Mac, enquanto o inverso só se tornou possível bem mais recentemente.

Emuladores são velhos conhecidos dos usuários Mac. Já nos anos 80, os Macs conseguem rodar outros sistemas operacionais graças a esse tipo de programa, que imita um hardware via software. O primeiro exemplo bem-sucedido foi o SoftPC, da Insignia Solutions, que emulava um IBM PC XT, com processador 8088, em um Mac com chip Motorola 68020. Rodava programas de DOS. Em 1994, foi lançado o SoftWindows, que permitia rodar o Windows 3.1 e seus programas no Mac, numa velocidade aceitável. Mais tarde, a Insignia passaria a sofrer a concorrência da Connectix, com o VirtualPC, posteriormente adquirido pela Microsoft.

Cartão de compatibilidade DOS da Apple

A Apple não desencorajou iniciativas como essa. Pelo contrário, até passou a oferecer soluções de hardware, que dispensavam a tradução do código x86 para 68k ou PPC. Eram os famosos cartões de compatibilidade DOS, placas de PC com processador Intel 80486 ou Pentium que vinham espetadas nos slots PDS, NuBUS ou PCI, conforme a versão do Mac. Embora essas máquinas fossem comandadas pelo Mac OS, podiam rodar Windows nativamente. O HD era particionado e, apesar de cada sistema ter sua própria memória, a área de transferência podia ser compartilhada entre os dois. O usuário alternava entre os dois sistemas com uma simples combinação de teclas (command + return). Alguns modelos de Performa e Power Macintosh vinham com esses cartões instalados de fábrica.

E emular Mac em outros sistemas? No Amiga, da Commodore, era possível emular o Mac desde 1988. Como o Amiga também usava CPUs da família 68k, não havia necessidade de emular o processador. Com a transição para o PowerPC, o último chip 68k usado no Mac foi o 68040. O Amiga, por sua vez, chegou a usar o processador 68060, mais veloz e capaz de trabalhar a clocks maiores. Por isso, um Mac virtualizado pelo ShapeShifter ou pelo Fusion em um Amiga com CPU 060 oferecia mais velocidade que um Mac 68k real.

Para PC, desde 1990 um emulador chamado Executor permite rodar programas de Mac sem rodar o Mac OS de verdade. Só em 1999, com o Basilisk II, conseguiu-se uma emulação aceitável do Mac OS no Linux. O Basilisk II foi posteriormente portado para DOS, Windows e até para o Mac OS X!


Mac OS 8.1 rodando, via Basilisk II, em um MacBook com OS X 10.6.5

Como? Emular Mac no Mac? Sim! Nos novos Macs com processador Intel, a única forma de rodar programas do Mac OS clássico é emulando um Mac 68k com o Basilisk II ou um Mac PowerPC com o SheepShaver ou o PearPC. Nas transições de processador (68k para PowerPC e PowerPC para Intel), a Apple empregou emulação, no caso para traduzir o código de programas antigos para o novo chip. Também na mudança do sistema clássico para o OS X, houve uma espécie de virtualização com o entorno Classic, que permitia rodar programas antigos dentro do Mac OS X.

Mesmo antes da volta de Steve Jobs, a Apple já vinha progressivamente adotando cada vez mais componentes padrões da indústria. Isso significa que os Macs estavam ficando cada vez mais parecidos (e compatíveis) com PC. Mas nada comparado à revolução anunciada por Jobs em 2005, quando a Apple migrou para os processadores Intel. Em termos de hardware, a única diferença significativa entre um Mac e um PC genérico é o dispositivo de boot. Enquanto os PCs têm uma ROM que roda o programa BIOS, o Mac usa a Extensible Firmware Interface (EFI).



Hackintosh: como transformar um PC barato em um Mac (sem autorização da Apple)

Com isso, os Macs podem rodar Windows nativamente, graças a um programa da Apple chamado Boot Camp, que instala o BIOS na EFI e permite dual-boot. A recíproca é verdadeira: com algumas gambiarras, PCs genéricos podem rodar o Mac OS X em código x86. É o chamado “Hackintosh”, que funciona até em alguns netbooks. A Apple não autoriza essa prática. A licença de uso do Mac OS X só permite que ele seja instalado em máquinas da Apple.

Windows Internet Explorer rodando no Windows XP em uma máquina virtual do Parallels, no OS X 10.6.5: integração total entre os dois sistemas

Se o Boot Camp ainda não tem a flexibilidade dos antigos Macs DOS-Compatible ou PC-Compatible, a solução é usar virtualizadores como o Parallels Desktop ou o VMWare Fusion, que permitem rodar o Windows dentro do Mac OS X, em uma máquina virtual, sem necessidade de emular o processador e com transparência e integração entre os dois sistemas. Há ainda o CrossOver e o Wine, que possibilitam rodar programas de Windows sem precisar rodar Windows, usando apenas algumas bibliotecas do sistema da Microsoft. E agora digam, quem que não é compatível?

Microsoft Visio rodando no Mac OS X via Crossover

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mac na mídia

As mais tradicionais revistas de Mac brasileiras – a antiga Macmania e sua sucedânea, a Mac+ – sempre dedicaram um espaço às aparições de máquinas e sistemas operacionais da Apple em TV, cinema e publicidade. No Brasil, a visibilidade do Mac praticamente se limita a essas aparições ocasionais, já que a Apple veicula pouquíssima publicidade por aqui. Em 15 anos de presença no país, a empresa deve ter exibido apenas dois ou três comerciais em TV aberta, por exemplo. Em revistas e jornais, houve alguma presença significativa em meados dos anos 90, mas ficou nisso.

Nos EUA, a Apple veiculou algumas das mais criativas campanhas da história. O comercial de lançamento do Mac, em 1984, dirigido por Ridley Scott, e as campanhas que se seguiram à segunda vinda de Steve Jobs, em 1998, como as séries Think different e Mac vs. PC, são exemplo dessas peças memoráveis. Confira algumas dessas peças:

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Vai ter iPad pra todo mundo?


Mesmo sendo o mais caro do mundo, o iPad superou as expectativas em seu primeiro dia de vendas no Brasil. Algumas versões com conexão 3G já estavam em falta em alguns sites que comercializam o produto.

Fontes do setor garantem, porém, que os estoques serão repostos e não deve faltar iPad no Natal dos brasileiros. O primeiro lote trazido pela Apple tem “apenas” 50 mil equipamentos. Para efeito de comparação, esse é o número de Macs vendidos por ano no Brasil. Será que um brinquedinho que roda um sistema operacional limitado e engessado e que chega a custar quase o mesmo que um Mac vai vender em um mês tanto quanto este em um ano?

Confira os preços do iPad:

Wi-fi Wi-fi + 3G
16 GB R$ 1.649 R$ 2.049
32 GB R$ 1.899 R$ 2.299
64 GB R$ 2.199 R$ 2.599

O Mac mais barato no Brasil, o Mac mini básico, custa R$ 2.699, apenas R$ 100 a mais que o iPad na sua configuração mais completa. É preciso lembrar, no entanto, que o mini não inclui teclado, mouse e monitor, que devem ser comprados à parte. Mas as versões básicas do Macbook e do Macbook Air custam a partir de R$ 3.199, preço que pode cair até para R$ 2.699 em algumas promoções de revendas autorizadas.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A era da interface engessada

Mais de 10 meses depois de ser apresentado pela Apple e oito meses depois de seu lançamento no mercado americano, chega amanhã, à meia-noite (0h de sexta-feira), ao mercado brasileiro, o iPad, tablet da Apple que roda o iOS, o sistema operacional do iPhone e do iPod Touch. Quem já usou conta que a experiência é revolucionária. Até pessoas que nunca tiveram a menor familiaridade com tecnologia se sentem à vontade para usá-lo.

Para os usuários acostumados com o Mac OS e o Mac OS X, o choque é inevitável. O usuário não pode instalar os programas que quiser (a não ser que faça o jailbreak), não sabe onde os arquivos estão salvos, não consegue customizar a interface e não pode sequer mudar o formato de hora no relógio.

Pensando bem, mudar o formato do relógio não dá mais para fazer nem no Mac OS X Snow Leopard. Em versões anteriores do sistema, o relógio obedecia ao formato de hora configurado pelo usuário no painel de preferências Internacional (até o Mac OS X 10.4 Tiger) ou Idioma e Texto (a partir do 10.5 Leopard). Agora, o relógio insiste em exibir o símbolo das unidades de tempo no sistema anglo-saxão (:), mesmo que o usuário tenha configurado manualmente as preferências para os símbolos dessas unidades no sistema internacional (h, min e s). Confira nas capturas de tela abaixo:




Para resolver esse problema, tive que apelar para um programa (na verdade, um painel de preferências) chamado iClock pro, que traz ainda outros recursos, como exibir a fase da Lua na barra de menus e um prático calendário.

Made in Brazil

Há algumas semanas, causou frisson no mercado a declaração do empresário Eike Batista de que pretende instalar uma montadora de produtos Apple no Brasil. Ele disse que está negociando diretamente com fabricantes chineses terceirizados para posteriormente obter a aprovação da Apple e fechar o negócio. Um dos fabricantes chineses de produtos da maçã é a Foxconn, que já tem fábrica no Brasil. Na China, ela produz iPhones e iPads. Recentemente, recebeu encomenda para a produção de Macbooks. Se a promessa de Eike sair do papel, teremos Macs livres do imposto de importação, portanto muito mais baratos. Vamos aguardar.


O que pouca gente se lembra é que a Apple já montou Macs low-end no Brasil, por volta de 1997. O modelo escolhido foi o Macintosh Performa 6360 (foto acima). Tinha CPU PowerPC 603e rodando a 160 MHz, 8 MB de RAM soldados na placa lógica e dois slots DIMM de 168 pinos compatíveis com módulos de 8, 16, 32 e 64 MB cada, HD de 1,2 GB, leitor de CD 8x e drive de disquete. Suportava as seguintes versões do software de sistema: System 7.5.3, System 7.5.5, Mac OS 7.6, Mac OS 7.6.1, Mac OS 8.0, Mac OS 8.1, Mac OS 8.5, Mac OS 8.6 e Mac OS 9. O form factor (gabinete) era o mesmo do bom e velho Quadra 630.

A linha Performa representou a tentativa da Apple de recuperar terreno no mercado doméstico, dominado pelos PCs Windows. Embora seus preços fossem competitivos, esses Macs tinham limitações de performance e de upgrade.



Foi nessa época que a Apple desenvolveu sua breve política de clones, licenciando o Mac OS para outros fabricantes, tais como a Power Computing (foto acima), Umax, Genesis e Motorola. A ideia era transformar a plataforma PowerPC em um novo padrão de mercado, substituindo os PCs padrão IBM rodando Windows. Não deu certo: os Mac-compatíveis não roubaram mercado dos PCs, apenas canibalizaram a venda dos Macs da Apple. Talvez a política de licenciar o sistema tivesse funcionado se fosse adotada desde o lançamento do Macintosh, em 1984. Uma das primeiras medidas de Steve Jobs ao voltar para a empresa que fundou foi acabar com os clones.

Nos últimos 5 anos, voltou-se a falar em clones. Com a migração para os processadores Intel (e, consequentemente, para o código x86), tornou-se possível, com algumas gambiarras, instalar e rodar o Mac OS em PCs comuns, desde que bem configurados. Tal prática, porém, não é autorizada pela Apple.

Hoje, o que a empresa faz é terceirizar a produção, mas sempre vendendo os Macs com a sua marca. E é justamente essa montagem terceirizada que Eike Batista quer trazer para o Brasil.