terça-feira, 9 de novembro de 2010

Da pré-história ao futuro do Mac

Usar o mouse, clicar em ícones, abrir janelas e organizar os arquivos do seu computador em pastas, numa interface gráfica com o usuário (GUI) que usa a metáfora da mesa de trabalho (desktop) nos parece a coisa mais natural do mundo. Mas nem sempre foi assim. Em 1973, pela primeira vez esse conceito foi empregado em um protótipo de computador. A engenhoca abaixo, do tamanho de um frigobar, é o pioneiro Xerox Alto. Além da GUI, ele trazia a conexão de rede Ethernet e um de seus aplicativos era um processador de texto WYSIWYG (what you see is what you get). Tinha 128 kB de RAM e um cartucho de armazenamento de 2,5 MB.

Desenvolvido no Palo Alto Research Center (Parc), o Alto jamais chegou ao mercado. O primeiro produto comercial a incorporar suas características foi o Xerox Star, uma workstation com preço básico de US$ 75 mil, lançada em 1981. Tinha 384 kB de memória, expansíveis até 1,5 MB. Suas unidades de armazenamento eram HDs que variavam de 10 a 40 MB e drives de disquete de 8 polegadas.


Nessa época, durante visita ao Parc, Steve Jobs, cofundador da Apple, ficou impressionado com a GUI. Jobs também foi apresentado à interface de rede Ethernet e à programação orientada a objeto, mas só tinha olhos para a revolucionária forma de interação entre homem e máquina. Desprezada pela cúpula da Xerox, que estava mais preocupada em vender copiadoras do que investir em um produto que tinha um periférico chamado “mouse”, a equipe do Parc acabou sendo contratada pela Apple, para trabalhar em dois projetos paralelos: o Lisa e o Macintosh.

Lançado em 1983 e dirigido ao mercado corporativo, o Apple Lisa custava quase US$ 10 mil, em valores da época (cerca de US$ 22 mil em valores atualizados). Tinha CPU Motorola 68000 rodando a 5 MHz, 1 MB de RAM, dois drives de disquete de 5,25 polegadas e capacidade de 871 kB cada e, opcionalmente, um disco rígido externo de 5 MB ou um interno de 10 MB.


No ano seguinte, chegava ao marcado o produto desenvolvido pelo outro time dentro da Apple: o Macintosh, que levava o mouse, a interface gráfica e a metáfora do desktop ao usuário comum por cerca de US$ 2.500. Apesar de menos poderoso – seu processador 68000 rodava a 8 MHz, mas a memória estava limitada a 128 kB e a única unidade de armazenamento era um drive de disquetes de 3,5 polegadas da Sony de 400 kB –, o Mac original não tardou a canibalizar as vendas do Lisa, que se tornou o maior fracasso comercial da história da Apple. Muitas das boas características do sistema operacional do Apple Lisa acabaram incorporadas ao software de sistema do Mac.



John Sculley, CEO da Apple na época, lembra que o Mac original não tinha propriamente um sistema operacional. Grande parte das funções do sistema estava na ROM. Era uma gambiarra, um conjunto de truques de hardware e software que faziam milagres. Essa solução tinha um preço: os aplicativos assumiam o controle da memória, gerando instabilidade.

O sucesso da interface gráfica do primeiro Macintosh fez com que diversos concorrentes copiassem a ideia, entre elas a Atari, com o ST, a Commodore, com o Amiga, e até a Microsoft, com o Windows (uma camada de interface gráfica que rodada por cima do sistema MS-DOS nos PCs padrão IBM, de arquitetura aberta). Até Steve Jobs, que após uma queda de braço com Sculley deixou a Apple para fundar a NeXT, usou uma GUI avançada no sistema Unix da nova empresa.

A partir do System 5, de 1987, com o advento da extensão MultiFinder, passou a ser possível rodar vários programas ao mesmo tempo. No ano seguinte, veio o System 6, mais consolidado e estável, que perdurou até a virada da década.


A primeira transição dramática do Mac veio em 1991, com o lançamento do System 7. A multitarefa cooperativa, trazida pela extensão MultiFinder, foi incorporada ao sistema, que ganhou endereçamento de memória de 32 bits, trazendo problemas de compatibilidade com programas antigos. Houve avanços na interface gráfica, na estabilidade e na capacidade multimídia, com o QuickTime. Foi o primeiro sistema compatível com o processador 68040, o último da linhagem 68k, de tecnologia Cisc. Já na versão 7.1.2, de março de 1994, tornou-se compatível com a CPU PowerPC, com arquitetura Risc. A transição para a nova família de chips (a segunda transição da história dos Macs, a primeira de hardware) se completou em 1996. Hoje, quem diria, graças à emulação, o System 7 pode rodar em iPhone.


Nessa época, os clones do PC da IBM vinham ganhando a hegemonia do mercado. O Windows havia chegado à versão 3, tornando-se uma opção acessível de interface gráfica, ainda que estivesse muito longe de alcançar o Mac em facilidade de uso e intuitividade. Mas a empresa de Bill Gates se preparava para lançar seu novo sistema operacional, o Windows 95, que prometia levar aos usuários de PC comum uma experiência de uso parecida com a do Mac.

Enquanto se preparava para desenvolver um sistema operacional mais estável e moderno (o Mac OS 8, codinome Copland), com multitarefa preemptiva e memória protegida, a Apple fez mudanças cosméticas e funcionais no System 7, comprando sharewares desenvolvidos por terceiros e incorporando-os ao OS. O System 7.5, de setembro de 1994, trouxe alguns desses novos recursos, como menus hierárquicos e o relógio na barra de menus. Na versão 7.5.1, recebeu pela primeira vez a denominação Mac OS.



Mas o prometido sistema operacional moderno sofria cada vez mais atrasos. Houve novas trocas de CEO (Sculley foi sucedido pelo alemão Michael Spindler e pelo novaiorquino Gil Amelio), e a Apple continuava a perder mercado para os PCs. A tentativa de abrir a plataforma com uma política de licenciamento agravou a situação, já que os clones não chegaram a roubar mercado dos PCs, apenas prejudicaram ainda mais as vendas da empresa, que amargava prejuízos crescentes. O futuro da Apple e da própria plataforma era visto como incerto.

Diante do fracasso no desenvolvimento do novo OS, a solução escolhida foi comprar um sistema de outra empresa. O BeOS, da Be Inc., empresa fundada pelo ex-executivo da Apple Jean-Louis Gassée, estava no páreo, mas a escolha recaiu sobre o OpenStep, sistema da NeXT, de Steve Jobs. A Apple comprou a NeXT, trazendo seu fundador de volta, e entrou nos eixos. Jobs racionalizou a linha de produtos, apostou na inovação e, paralelamente ao desenvolvimento do novo sistema, prosseguiu no melhoramento do Mac OS antigo. Vieram as versões 7.6, 8.0, 8.1, 8.5 e 8.6, considerada a mais estável de toda a história do sistema clássico.

No hardware, a sopa de letrinhas e números que marcava a linha Apple deu lugar a quatro famílias: iMac, iBook, Power Mac e PowerBook. Lançado em 1998, o iMac retomou o conceito monobloco (computador com monitor integrado), trazendo como novidade o gabinete translúcido e colorido, de formas arredondadas, que quebrou o velho paradigma de que computador tinha que ser um caixote bege. A primeira geração de iBooks e o Power Mac G3 “Trovão Azul” seguiram esse novo conceito. Na sequência vieram o iMac G4 abajur, o eMac (branquinho, último Mac monobloco com monitor CRT), o iMac G5 (com monitor de cristal líquido), o Mac Mini G4 em formato de marmita e o Power Mac G5, entre outros modelos.


Em 1999, na transição para o novo sistema (a terceira grande transição do Mac, a segunda de software), o Mac OS X, veio o Mac OS 9, que trazia recursos multiusuários, compatibilidade com redes sem fio, a biblioteca de APIs Carbon (permitindo o desenvolvimento de programas compatíveis tanto com o OS 9 como o OS X) e a possibilidade de virtualização do sistema clássico no ambiente Classic do Mac OS X.


A versão servidor do Mac OS X chegou ao mercado em 1999, com uma interface parecida com a do Mac OS clássico. Teve vida curta. Sempre com codinomes de felinos, o OS X chegou para valer em março de 2001, na versão 10.0 Cheetah (guepardo) trazendo avanços inegáveis em estabilidade e segurança, mas também mudanças radicais na interface gráfica, que geraram protestos de usuários tradicionais. Com o tempo, alguns recursos perdidos foram trazidos de volta, outros puderam ser recuperados com softwares de terceiros e há ainda os que foram substituídos por novas funcionalidades do sistema.


Na sequência vieram as versões 10.1 Puma (suçuarana, onça-parda, leão-da-montanha ou cougar), 10.2 Jaguar (onça-pintada, onça-preta), 10.3 Panther (um nome genérico que pode se referir a várias espécies de grandes felinos), 10.4 Tiger (tigre), 10.5 Leopard (leopardo) e 10.6 Snow Leopard (leopardo-das-neves). Até o Panther, todas as atualizações traziam melhora de desempenho e velocidade, além da estabilidade. Lançado em abril de 2005, o Tiger, mais comedor de memória, foi o primeiro Mac OS compatível com o código x86, usado nos processadores Intel e similares, marcando o início da quarta transição (a segunda de hardware) da história dos Macs, que se completou com o Snow Leopard, de agosto de 2009, o primeiro sistema a rodar exclusivamente em CPUs Intel.

A transição de PowerPC para Intel foi um capítulo surpreendente na história dos Macs. A justificativa oficial era que a IBM e a Freescale (novo nome da subsidiária de semicondutores da Motorola) não conseguiam entregar CPUs G5 para os PowerBooks. Depois de mais de uma década alardeando a superioridade da arquitetura Risc sobre a Cisc, chegando a comparar os chips Intel Pentium a lesmas, a Apple agora migrava para os processadores Intel. O anúncio da mudança foi feito por Stevde Jobs em junho de 2005. Por sorte, os mal-afamados Pentium não chegaram a equipar Macs. Os modelos da Apple são equipados com processadores das famílias Core e Xeon. O primeiro Mac Intel foi o Mac Book, lançado em janeiro de 2006. Em agosto, a nova linha de produtos já estava completa, com o Mac Pro.

Paralelamente aos novos modelos de Mac e ao desenvolvimento do OS X, a Apple lançou uma série de gadgets que viraram sonho de consumo até dos pecezistas: a família iPod de tocadores de áudio digital, o armazenador e reprodutor de mídia digital tv, a estação AirPort Extreme, o HD com roteador Time Capsule, o celular iPhone e o tablet iPad.


O Snow Leopard deve receber hoje (10) mais uma atualização, a 10.6.5, e outra está a caminho, a 10.6.6, já enviada a desenvolvedores. Para o ano que vem, está previsto um grande update, o 10.7 Lion. O que poderemos esperar dele? Uma maior convergência com o iOS, o sistema operacional do iPhone, iPod Touch e iPad? Vamos aguardar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário